Considerando que explorar a solidão alheia é praticamente o modelo de negócios da Netflix, com umas quarenta variações da premissa “Vem cá se humilhar por amor, sua fudida!” estreando todo ano, não é pouca merda dizer que Ultimato: Ou Casa ou Vaza é uma das melhores.
A produção do Ultimato sacou uma grande verdade sobre a indústria dos realities: ver gente bonita se iludir com estranho CANSA. Não adianta fantasiar o participante de bicho, botar ele no mesmo elenco que o próprio filho, ou seja lá qual for o gancho mirabolante da vez se no fim das contas todo casal dá no mesmo você-não-é-quem-eu-achei-que-fosse.
Daí a inovação do Ultimato: produzir um reality de namoro com gente que já namora. O que é uma briguinha de Valmir e Karen comparada a um casal com SETE ANOS de ressentimento no tanque?
Tudo isso trabalha extremamente a favor do Ultimato 1 e Ultimato: Queer Love, dois dos melhores programas que a televisão americana tem a oferecer. Mas esse ano o negócio deu errado.
Que vibe horrorosa esse programa. Química zero, buceta seca, um ar geral de infelicidade. Já começa esculhambado filmando no outono; programa de namoro é biquininho e drink na mão. Esse aí tá geral de gola até o queixo. Aí a maior maluca de todas vai embora no segundo episódio — uma GRANDE perda pra temporada, que nunca chega a se recuperar.
O elenco até tem seus momentos; eu gosto que a Ryann, a MAIS elogiada, sai de casa todo dia igual uma Barbie. Não Barbie no sentido de perfeita; Barbie de boneca barbie mesmo. A íris contornada de preto, um cabelo meio poliéster, o combo anos-2000 Batom Rosa e Sombra Branca. Tudo isso pra acabar casando com o cara que parece um sósia do Carlos Pilotto.
Mas não adianta. Pra funcionar, o Ultimato precisa de um equilíbrio perfeito. Duas horas de DR filmada na câmera noturna estilo Atividade Paranormal? Ótimo, agora corta pra um cara querendo largar o namoro de dez anos pela mulher que ele conheceu ontem.
Sem esse revezamento de vibes, a coisa pesa — e essa temporada pesou DEMAIS. É um contando trauma de infância, o outro falando de abusar droga, a coitada lá que nunca gozou. Só desgraça, parece minissérie Globoplay. Isso quando não é um papo simplesmente CHATO. Cê vê a mulher falando de empreendedorismo (??!) no encontro e pensa putz… a essa hora no Queer Love tava aquela maluca armando de dedar a ex alheia.
Talvez o problema seja o prêmio. Com um programa que nem o Big Brother é fácil atrair quem tenha um certo desprendimento da realidade. Todas as pessoas mais doentes do mundo querem ganhar um milhão. Já o prêmio do Ultimato é casar com uma pessoa que não quer casar contigo; correr atrás disso na TV exige uma crise de autoestima que não rende os melhores elencos.
Mas o que parece é que o formato deu errado pelas mesmas razões que deu certo: um elenco que já se conhece. É tudo familiar demais. Não tem uma risada solta, um brilho no olhar. Nem a troca-de-esposas deu uma aliviada; chega a ser engraçado o cara que levou a loirinha pra casa não tar nem aí pra ela. Nem PASSOU pela cabeça dele se apaixonar. É como se ela não existisse.
Com sorte, a próxima temporada encontra algum agente do caos e cala a minha boca. Por enquanto, é preciso conceder ao Ultimato 2 o primeiro SELO RESPONDENDO DE REPROVAÇÃO.
respostas
Falando em reprovação, hora de responder o telegram.
oi laurinha! vim discutindo com um amigo esses dias e cheguei a conclusão que, pelo menos pra mim, você é a clarice lispector da nova geração. você concordaria? (N.)
Tá todo mundo comentando!
viu que arregaçaram a póbi da luisa sonza pq ela postou um livro da hannah arendt no instagram e parece que a escritora é supremacista branca? (A. L.)
Vacilo da loirinha isso aí. Faltou informação. Quem acompanha o blog já tava sabendo essa questão da Hannah Arendt; eu PREZO por criticar intelectual que morreu nos anos 70. Aqui a pauta é sempre quente!
Lau, tava rodando aí uma trend de contar qual é a sua interação favorita com uma celebridade. Então eu te pergunto. Qual é a sua interação favorita com uma celebridade? (D.)
Eu não gosto dessa trend. Muito se fala sobre a corrupção e a milícia carioca, mas a pior parte de morar no Rio é não conseguir ligar na Globo sem lembrar de alguma anedota sexual constrangedora que a sua amiga te contou. Tá lá mó novelão de época, geral trajado na beca e você hmmm. Aquele padre ali é o cara que comeu a Lídia no Rio das Ostras Jazz & Blues 2013….
E nunca é um famoso interessante! Ninguém te chama no privado pra descrever a cabeça do pau do Murilo Benício. É sempre nossa, tu não vai acreditar com quem eu saí ontem… Wagner Santisteban! O Basílio de Sandy & Junior!! Cê já vê que a história não presta quando começa com “lembra”. Lembra aquele cara que fazia o vocalista da Vagabanda? Então…!
Isso quando a anedota não é uma coisa completamente normal com um famoso enfiado no meio. Minha prima sempre conta da vez que ela ganhou da Isabelle Drummond, a eterna Boneca Emília, num torneio de natação sub-15 em Niterói. É uma anedota isso? Qualifica? Minha interação favorita com uma celebridade: a vez que eu peguei um elevador com o Otaviano Costa. E daí? Todos os dias milhões de pessoas pegam um elevador com Otaviano Costa. Algumas histórias não precisam ser contadas.
Infelizmente uma trend dessa só dá pra ter história ruim mesmo, porque quanto melhor a interação com um famoso, menor a chance de alguém te contar. Eu tenho uma história muito boa da vez que determinado-ator-brasileiro pegou ar com uma piada que eu fiz e mandou a assessoria dele dar um jeito. Já tava gravado, cortaram, foi pro lixo. Posso dizer quem foi? Não. Mas que graça tem uma história sem nome?? Parece o Flesch quando não tem o que falar.
Outra vez eu saí com um comediante que na época era mais famoso do que é agora, tinha até bordão. Levou coisa de dez minutos no bar pra eu perceber que ele não era tão engraçado ao vivo, e acho que ele mesmo percebeu que eu percebi, porque a próxima coisa que ele fez foi usar o bordão. O próprio bordão. Na mesa do bar.
Teve a vez que um famoso pediu meu número na dm e me ligou perguntando se é verdade as histórias que eu conto do meu irmão. Teve a vez que uma famosa conhecida por ser intelectual me contou de tacar um dvd no marido. Essas são só as histórias que dá pra contar sem ficar óbvio de quem eu tou falando, o que é dizer: sinto muito, mas minha interação favorita com uma celebridade vai morrer comigo.
não acredito que você foi num date com o didi! felicidades ao casal
A verdade é que se é possível contar sobre a interação com um famoso sem ser processado por ele esta interação não é tão boa assim